Ontem foi o último dia do festival de Sundance, um dos grandes festivais de cinema americanos que tem como intuito ajudar a divulgar produções independentes.
Claro que, no meio dos filmes indie desconhecidos, o line up do festival este ano (e de todos os outros, para dizer a verdade) inclui também diretores que  já saíram anonimato como Zach Braff – que estrelou por 9 anos a série de TV “Scrubs” e dirigiu o indie de 2004 “Hora de Voltar” – e claro, os obrigatórios filmes estrelados por atores famosos, tentando dar (mais) credibilidade à carreira, ao trabalhar em projetos independentes.
Esta edição de Sundance teve filmes estrelados por pessoas como Keira Knightley e Chloe Moretz, Ryan Reynolds, Kristen Wiig, Michael Fassbender, Michael C. Hall entre outros.
Mesmo incluindo nomes conhecidos, os filmes do festival estão longe de ser blockbusters; muitos deles sequer dá para saber quando (ou se) vão chegar em terras nacionais.
Mesmo assim, achei interessante listar aqui alguns títulos (poucos; tem muitos mais) que, pela sinopse divulgada e pela opinião da crítica lá de fora, parecem interessantes pra gente ficar de olho, e ficar com vontade de baixar quando sair online assistir no cinema, se lançarem por aqui.
Como as produções desta lista chamaram bastante a atenção no festival, acho provável que isso aconteça. Vejam se algum dos filmes desperta interesse:
“Boyhood”
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Richard Linklater (da série “Antes do Amanhecer/Pôr do Sol/Meia Noite”), já trabalha há 12 anos neste projeto, que acompanha a vida de um garoto entre os cinco e dezoito anos de idade, e mostra como as pessoas acabam sendo definidas por uma sucessão de momentos mundanos.
As resenhas do filme tem sido bastante elogiosas, principalmente a respeito do trabalho do ator principal do filme, Ellar Coltrane.
Com o sucesso recente de Linklater em “Antes da Meia Noite” (para não mencionar, sei lá,todo o resto de sua carreira) o filme foi um dos mais discutidos e aguardados do festival.
Como o longa foi financiado com a ajuda do IFC (Independente Film Channel), já o tem como distribuidor garantido, a não ser que algum outro grande estúdio faça uma oferta maior. De qualquer forma, a probabilidade de que acabemos vendo “Boyhood” por aqui eventualmente é alta.
“Whiplash”
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Vou ser sincera, a sinopse oficial deste aqui parece um pouco ridícula: “Sob a tutela de um instrutor sem escrúpulos, um talentoso jovem baterista começa a tentar alcançar a perfeição a qualquer custo, inclusive sua humanidade.” Aí você se pergunta, o que no mundo pode ter de tão dramático, em aprender a tocar bateria?
Eu não sei a resposta, mas sei que “Whiplash” foi o grande vencedor do prêmio do júri, na categoria ‘filme dramático’, em Sundance e que seus atores principais são dois dos meus ‘acho-que-eu-já-esse-cara-em-algum-outro-filme‘ preferidos: Miles Teller (que até agora não atuou em nenhum filme suuuper divulgado, mais foi fantástico em “Reencontrando a Felicidade“) e JK Simmons, que muitos conhecem como o chefe de Peter Parker, no “Homem Aranha” de Sam Raimi, mas deveriam conhecer como um dos atores mais subestimados da atualidade.
Dizem que as performances musicais no filme são cheias de energia, assim como a relação volátil e instável entre os dois personagens principais. E muitos elogios foram feitos a Simmons e Teller, que conseguiram transformar essa dinâmica em uma batalha memorável de se assistir.
“Dear White People”
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Baseado em um curta, este filme acompanha quatro estudantes negros em faculdades de primeiro nível nos Estados Unidos, durante uma onda de protestos a respeito de uma festa com tema ‘afro-americano’, organizada por estudantes brancos. Com um humor sarcástico, o filme analisa a construção de identidades raciais, num país que se diz ‘pós-racial’.
O longa ganhou um prêmio especial do júri em Sundance, e parece ser bem o tipo de humor irônico que pessoas que ainda fazem declarações como “eu não sou racista, mas…” do mundo inteiro precisam ver.
“The Voices”
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Pela história, sobre um “homem que fala com seus bicho de estimação e os bichinhos respondem”, não dá para ter muita noção do quão bom seria “The Voices” – a descrição, para ser sincera, parece bem “Doutor Dolittle”.
O elenco -Ryan Reynolds – tentando se desvencilhar dos fracassos de bilheteria da sua carreira em blockbusters -, Anna Kendrick e Jacki Weaver (uma atriz sensacional, no filme australiano “Reino Animal”) -, ajuda mas também não garante.
O que realmente me faz querer conferir este aqui é o fato de que foi dirigido pela iraniana Marjani Satrapi, autora do quadrinho-que-virou-animação “Persépolis“.
Afinal, se o trabalho anterior de Satrapi for usado como base, podemos esperar um filme com um senso de humor afiado, momentos emocionantes, mas não forçados e um forte senso crítico do mundo em que vivemos.
“Calvary”
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A performance de Brendan Gleeson – um ator irlandês que você precisa conhecer como algo além do Moody, em “Harry Potter” – foi elogiadíssima, neste filme sobre padre que precisa enfrentar problemas sérios, envolvendo alguém de sua igreja. O filme é uma mistura de drama e comédia de humor negro, e também inclui no elenco o ator Chris O’Dowd, que é um comediante fantástico.
Como o filme foi recentemente comprado pela Fox Searchlight Pictures, é provável que saia por aqui eventualmente.
“Frank”
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Você poderia dizer que este filme é sobre uma banda que está tentando sair da Irlanda, para tocar no famoso festival SXSW, nos Estados Unidos. Mas muito mais importante que isso é lembrar que o vocalista da banda será vivido por Michael Fassbender e que, por algum motivo, ele usa uma cabeça de papelão gigantesca, durante partes do longa. Algo bizarro nesse nível precisa ser visto pelo mundo.
A presença de Fassbender, e da atriz Maggie Gillenhaal, deve atrair distribuidores para o filme, logo mais.
“Happy Christmas”
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Um filme de Joe Swamberg – diretor conhecido no meio indie – estrelado pela adorável Anna Kendrick, e com participação da atriz e criadora da série “Girls“, Lena Dunham, tem tudo para ser o mais hipster de todos os filmes.
A história é, claro, sobre uma mulher adulta imatura, que vai passar o Natal com a sua família. Espere gente privilegiada sem noção, sarcasmo e trilha sonora com bandas como The Shins.
“Laggies”
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Outra famosa diretora de filmes independentes, Lynn Shelton, fez um dos filmes mais comentados do festival, em que Keira Knightley vive uma mulher que, se aproximando dos 30 anos, não sabe o quer da vida, abandona o namorado, depois que ele a pede em casamento e passa a sair com uma menina de 16 anos (Chloe Grace Moretz) e seu pai solteiro (Sam Rockwell).
A história não é exatamente a mais criativa de todas – mulheres imaturas parecem ser a nova versão dos homens imaturos dos filmes de Judd Apatow -, mas eu assistiria a esse elenco até em remake de filme da Xuxa.
“Laggies” foi recentemente comprado pela mesma distribuidora de “Spring Breakers” nos Estados Unidos, então o filme deve vir para cá algum dia.
“Love is Strange”
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Ira Sachs é o mesmo diretor de “Deixe a Luz Acesa“, um dos meus dramas/romances preferidos sobre os altos, baixos e disfunções de um relacionamento de um casal gay que parece incapaz de se separar, apesar de serem destrutivos um para o outro.
Sachs retorna agora neste filme, estrelado pelos veteranos John Lithgow e Alfred Molina, sobre dois homens que se casam, após 39 anos vivendo juntos e começam a se adaptar a esta nova vida.
O filme já foi comprado pela Sony Pictures e, com base nas performances de Lithgow e Molina, e na relevância social do assunto do casamento gay, nos Estados Unidos, tem críticos que já falam até no potencial para Oscar dele. Se é exagero ou não, resta ver quando lançar por aqui. Mas que a Academia adora filmes de Relevância Social~ sobre assuntos polêmicos, isso eles adoram.
“The Raid 2″
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Eu já perdi a conta de quantos sites de cinema estão pirando em cima desta continuação do filme Indonésio de 2011, “Operação Invasão“.
O primeiro parece que foi um festival maravilhoso de pancadaria, com artes marciais indonésias e que este continua de onde o original parou, sem deixar nada a dever. Como o filme foi comprado pela Sony, esperem vê-lo por aqui logo mais.
“Skeleton Twins”
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Vencedor de um dos prêmios de roteiro do festival, este filme acompanha o reencontro de dois irmãos gêmeos, após muitos anos sem se ver, para lidar com uma crise familiar e tentar resolver questões que os levaram a ter vidas frustradas.
A sinopse pode parecer genérica, mas foi uma comédia dramática elogia, que tem como estrelas alguns dos comediantes de maior sucesso dos Estados Unidos; Kristen Wiig, Bill Hader (ambos de “Saturday Night Live”) e Ty Burrel (“Modern Family”).
Lá fora, o longa será distribuido pela Lionsgate.
“Cold in July”
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O filme conta a história de um homem de família no Texas (Michael C. Hall), que mata um homem que invadiu sua casa, e é perseguido pelo pai deste homem, em busca de vingança. Mais uma vez, eu sei que pela sinopse o filme parece bem qualquer coisa, mas ele é baseado em um livro de Joe R. Lansdale.
Eu não conheço profundamente os livros de Lansdale nem nada, mas eu sei que ele é o criador de “At the Drive-In“, uma das séries literárias mais violentas, perturbadoras, hilárias e profundamente loucas que eu já li na minha vida. A história é tão louca, que não tem como explicar: ela envolve sociedades pós-apocalípticas, dinossauros mecânicos e homenagens ao cinema de terror trash.
Acreditem quando eu digo que, se a história é dele, você não sabe o que pode acontecer.
“Wetlands”
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Este filme alemão é inclusão quase obrigatória em qualquer lista sobre a edição deste ano de Sundance, só pelo choque. Sabem como todos os filmes desta lista parecem histórias normais, que se preocupam em ter lógica e fazer um pouco de sentido? Legal. Agora deem uma olha na sinopse desse filme:
“a adolescente obcecada por fluidos corporais, Helen, descreve a si mesma como um ‘experimento vivo para higiene vaginal’. Depois de um acidente com depilação, ela acaba em um hospital, onde ela anda de skate pelos corredores e se recorda de suas experiências culinárias com masturbação, os poderes sedutores de seu cheiro e suas trocas de absorventes usados, com a sua amiga igualmente desinibida, Corinna”.
É uma sinopse grotesca, que faz zero sentido, mas se você não tem pelo menos um pouco de curiosidade mórbida em saber que tipo de filme eles podem extrair dessa história, parabéns. Você é uma pessoa melhor do que eu.