Imaginação sem limites.
Quem nunca brincou de LEGO na vida que atire o primeiro tijolinho plástico. Os brinquedos de montar que fizeram a infância – e a vida adulta – de muita gente tem há décadas mantido seu império. Nos últimos tempos, a marca ganhou mais adeptos e maior notoriedade ao adotar várias grandes franquias e transformá-las em brinquedos e videogames, seja “O Senhor dos Anéis”, “Star Wars” ou mesmo personagens da “Liga da Justiça”.
Agora chegou a hora das telonas ganharem sua versão, e nada mais justo que, ao melhor estilo dos brinquedos, seja uma mistura maluca de personagens e cenários, tudo construído com muito cuidado, dedicação e – por que não? – amor. “Uma Avenura Lego” (“The Lego Movie”) tem muito do espírito da marca e diverte a todos.
Emmet (Chris Pratt) é mais um entre milhares de bonecos LEGO. Ele trabalha como operário e leva uma vida dentro das regras, fazendo tudo que deve fazer, obedecendo cegamente às ordens do vilanesco governante Senhor Negócios (Will Ferrell), como toda a população. Um dia, ele encontra um artefato mágico e descobre que foi escolhido como “O Especial”, aquele que irá salvar o universo. Auxiliado pela misteriosa MegaEstilo (Elizabeth Banks), o sábio Vitruvius (Morgan Freeman) e Batman (Will Arnett), ele se une à sociedade secreta dos Mestres Construtores para evitar que Senhor Negócios cole o mundo para sempre. Mas para isso vai ter que aprender que há muito mais do que sua vida de simplesmente seguir guias e instruções.
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“Uma Aventura LEGO” não precisaria se esforçar muito para nos ganhar, mas vai até o fim com a proposta de fazer um filme brilhante. Conforme a aventura começa, logo nos vemos em um mundo onde TUDO é feito com os blocos de montar, e por isso obedece às regras muito específicas: aqui, o cabelo de um personagem pode ser trocado com a velocidade de um chapéu, e até mesmo a água, fumaça e fogo são feito de blocos.
Emmet é um operário, cujo trabalho nada mais é do que encaixar peças. Quando os Mestres Construtores entram em cena, tudo gira em torno das montagens de veículos e engenhocas para lutar contra os capangas do vilão. Em segundos, peças são encaixadas e não faltam possibilidades nem combinações – do mesmo modo, tudo pode mudar de forma a qualquer momento, se surgir a necessidade.
Um olhar clínico (ou ainda, “cínico”) de nós “adultos”, nos mostra logo o que está por trás do filme: vender LEGO. E nós sabemos disso desde o começo, e sabemos disso quando saímos do cinema loucos para montar alguma coisa com os blocos, mas aí quem manda é nossa criança interior. Mas devo dizer isso logo: Se “Uma Aventura LEGO” é para ser um grande comercial, é de longe o comercial mais honesto que já vi, e o mais divertido. Tudo isso sem que nenhum dos personagens precise falar o nome da marca.
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Aqui, conforme exploramos diversos universos onde os brinquedos já se situaram no mundo real – Piratas, Faroeste, Cidade, Espaço, mais dezenas de franquias da cultura pop incluindo “Os Simpsons”, “Harry Potter”, “Tartarugas Ninjas” e tantos outros – nada é feito de qualquer jeito. A montagem leva o espírito da marca, de montar, desmontar e misturar tudo, por isso o humor inocente, nonsense, funciona muito bem.
É a oportunidade perfeita para misturar todos os universos possíveis. Vemos Batman interagindo com Han Solo, Gandalf conversando com Dumbledore e até mesmo o presidente Abraham Lincoln em uma poltrona voadora. A trama, trabalhando o não-conformismo, se encaixa perfeitamente (ok, péssimo trocadilho) e tem momentos grandiosos.
Mesmo os personagens originais, feitos para o filme, tem ótimos momentos. Emmet é pateta, excessivamente ingênuo e otimista, e por genérico que possa ser – isso, inclusive, é importante na trama – é quem mais aprende e cresce. É fato, o herói consegue roubar a cena até frente ao grande Batman, que aqui é comicamente arrogante.
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Não espere stop-motion: a produção tem cenários grandiosos demais para isso, ainda que muitos detalhes simulem o estilo. Seja em movimentos mais robóticos, no encaixe de peças ou na reprodução fiel de texturas e brilho, é difícil não acreditar, às vezes, que não são realmente os brinquedos se mexendo na tela. Um elogio para a consideração cuidadosa do uso do 3D nas exibições: apesar do artifício ter sido obrigatório em quase todo grande lançamento recente, aqui a direção soube aproveitá-lo bem com ângulos de câmera ousados e muitos tijolos voando para todos os lados.
Muito do humor do filme é especial para quem já não é criança há tempos: apenas alguns adultos vão entender a graça de ver referências aos anos 80 ou a diversas figuras famosas, seja da ficção ou da vida real. Até mesmo o humor metalinguístico dos brinquedos, que enche os olhos tanto das crianças quanto dos adultos, tem sutilezas que os crescidos vão apreciar mais.
No fim das contas, a lição do filme vale para todos – na hora de brincar, vale tudo. Esqueça as regras. O vilão Senhor Negócios, que não entende que a criatividade e mistura é que tornam tudo mais interesse, é a personificação de tudo pelo que o espírito da marca luta. Ele quer colar as peças, fazendo-as que nunca mais possam ser desmontadas e remontadas. Ele não quer a mudança ou a criatividade. LEGO é feito para brincar, montar e desmontar. E conforme a trama avança, ficamos pensando no quanto somos acostumados a seguir regras impostas e não nos permitirmos pensar ou fazermos o que queremos simplesmente porque alguém nos disse que é assim.
Então, mesmo sendo adulto, vá ver este ótimo “filme de criança”.
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Além do elenco de estrelas citadas acima, a versão original conta com vários grandes nomes em papéis grandes e pequenos, incluindo Alison Brie, Channing Tatum, Charlie Day, Jonah Hill, Liam Neeson e Shaquille O’Neal. Anthony Daniels e Billy Dee Williams, inclusive, retomam seus personagens de Star Wars – C-3PO e Lando Calrissian, respectivamente.
A dublagem nacional conta com a direção e participação de Guilherme Briggs, mais Renan Freitas, Priscila Amorim, Duda Ribeiro, Jorge Vasconcellos, Marisa Leal, Léo Martins e André Marcondes e, como geralmente acontece, adiciona mais elementos divertidos e toques que as crianças vão se identificar facilmente. Se você faz questão absoluta da dublagem original, terá que buscar uma das poucas sessões legendadas. Caso contrário, divirta-se com o ótimo trabalho adaptado para o Brasil.
Já se fala em uma sequência, e se tudo se manter com o mesmo nível de qualidade, temos muitos motivos para expectativa.