Se você é fã de cinema e gosta de ficar por dentro de todos os lançamentos, então deve saber que o longa “Planeta dos Macacos: O Confronto” está com estreia marcada para o dia 24 de julho. Baseado no livro La planète des singes — romance de Pierre Boulle lançado em 1963 —, sua produção vem sendo muito comentada, especialmente devido ao realismo com o qual os símios parecem ter sido retratados.
E não é para menos que os personagens parecem tão reais: os produtores utilizaram tecnologias como a de captura de movimento — com a qual registraram gestos e expressões faciais que depois foram transpostas em modelos digitais — para, assim, animar os macacos que aparecem no filme.
Ambientado uma década depois dos acontecimentos do filme anterior — “A Origem” —, o novo longa traz um panorama de destruição no qual uma comunidade cada vez maior de primatas geneticamente evoluídos liderados por César está prestes a travar uma guerra contra os humanos para decidir qual das duas espécies dominará a Terra. Mas, e cientificamente falando, até onde o que aparece em “Planeta dos Macacos: O Confronto” é plausível?
Assim, apesar de o filme ser de ficção científica, o pessoal do The Guardian decidiu conversar com especialistas em evolução, comportamento, comunicação e anatomia para conferir se o que veremos nas telonas não será pura fantasia. Veja quais foram seus pareceres a seguir:
1 – Expressões faciais
Com respeito aos trejeitos corporais de César — protagonizados por Andy Serkis, o mesmo ator talentoso que deu vida a Gollum de “O Senhor dos Anéis” —, seus movimentos são extremamente realistas e condizentes com os de macacos da vida real. Por outro lado, as expressões faciais que vemos no longa nem sempre correspondem às que os símios mostrariam em situações normais.
Os especialistas apontaram que a tecnologia de captura de movimento utilizada na produção do filme tornou as feições dos símios humanas demais. Segundo explicaram, a expressão de desgosto, por exemplo, é uma demonstração exclusiva dos seres humanos. Além disso, quando os primatas mostram os dentes, eles não estão dando um sorriso, já que essa manifestação funciona como um sinal de perigo ou demonstração de agressão.
Ainda sobre as demonstrações faciais, os especialistas explicaram que nunca foram encontradas evidências de que os primatas fiquem carrancudos ou franzam o cenho, enquanto que os humanos fazem isso o tempo todo. Em vez disso, os símios fazem uso de muitas expressões nas quais fazem bicos e parecem gargalhar — soltando urros e outras vocalizações —, coisa que os humanos não fazem com frequência.
2 – Evolução familiar
Há 7 milhões de anos, quando os ancestrais comuns de humanos e chimpanzés se separaram dos ancestrais dos gorilas, eles mantiveram alguns de seus padrões “familiares”, onde gorilas machos dominantes costumam se acasalar com uma ou mais fêmeas para procriar.
Depois, 2 milhões de anos mais tarde, as linhagens de chimpanzés e humanos se separam, e os chimpanzés evoluíram de forma a apresentar um padrão familiar mais promíscuo, no qual as fêmeas têm filhotes de diversos machos. Os humanos, por sua vez, retiveram um padrão de comportamento mais parecido ao dos gorilas.
No filme, a família de César — o principal protagonista do lado dos macacos — se encaixa em uma estrutura familiar mais semelhante ao padrão observado entre gorilas, com um macho dominante entre uma ou mais fêmeas. Os especialistas especulam que talvez os roteiristas tenham optado por adotar o modelo familiar mais parecido ao dos gorilas para, dessa forma, “humanizar” o comportamento de César ainda mais.
3 – O bonobo nervoso
Um dos personagens do filme atual e que tem uma participação importante na trama é Koba, um bonobo bem agressivo que faz parte do exército de César. Na natureza, essa espécie de chimpanzé é conhecida por ter um comportamento mais juvenil, sendo que os adultos passam bastante tempo com as mães e não formam coligações com outros machos, como ocorre com os chimpanzés comuns.
Em vez disso, os bonobos são adeptos do “faça amor, não faça a guerra”, já que resolvem suas contendas através de atividades sexuais que nada tem a ver com a reprodução para aliviar a tensão. Os pesquisadores acreditam que essa espécie se separou dos chimpanzés comuns há dois milhões de anos e, apesar de o bonobo do filme ser bem violento — o que não condiz com o comportamento comum —, sua atitude poderia ser explicada.
Segundo os especialistas, qualquer espécie — incluindo os humanos — que seja isolada socialmente, enjaulada ou submetida a uma série de procedimentos invasivos, não terá um desenvolvimento normal. No caso de Koba, sua agressividade está baseada no sentimento de vingança contra os humanos que lhe fizeram mal e, de acordo com os especialistas, os símios têm excelentes memórias, portanto, essa tendência à represália foi considerada plausível.
4 – Bípedes
Em “Planeta dos Macacos: O Confronto”, os personagens aparecem perambulando sobre duas pernas durante boa parte do filme, o que não faz parte do comportamento típico de símios. Neste caso, como os bonobos contam com pernas relativamente longas, exemplares dessa espécie provavelmente teriam mais facilidade em reproduzir caminhas semelhantes às dos seres humanos.
Já os chimpanzés e os gorilas, como você sabe, apresentam um “caminhar” bem característico que envolve o uso das pernas e dos braços. Pois, apesar de parecer estranho ver esses primatas caminhando como bípedes nas telonas, algumas pesquisas demonstraram que ocasionalmente eles se locomovem dessa maneira na natureza.
Contudo, para os atores é bem mais complicado reproduzir os trejeitos dos macacos, e suas atuações foram muito elogiadas pelos especialistas. Isso porque os seres humanos têm pernas proporcionalmente mais longas equipadas com panturrilhas e glúteos maiores, que facilitam o deslocamento na posição vertical.
5 – Comunicação
Durante o filme, César aparece ensinando outros macacos a se comunicar através da linguagem de sinais, e isso, embora pareça totalmente impossível, é absolutamente plausível. Tanto que existe um estudo sobre um chimpanzé que aprendeu a usar a linguagem de sinais em cativeiro nos anos 70, e depois foi visto ensinando outros chimpanzés corretamente quando voltou a viver na natureza.
Os pesquisadores explicaram que a comunicação não verbal é uma característica fundamental em humanos e primatas, e muitos gestos são compatíveis entre os dois. No filme diversos personagens de espécies diferentes são vistos “conversando” uns com os outros, e esse bate papo entre criaturas distintas seria teoricamente plausível na vida real, apesar da grande sobreposição no repertório de gestos que seria observada nesse caso.
Com respeito à fala, existe apenas um gene indiretamente envolvido em nossa capacidade de nos comunicarmos verbalmente. No filme, os símios foram alterados geneticamente, e César aprendeu a se comunicar através da linguagem de sinais. Segundo os especialistas, nessas condições, a fala seria possível.
Além disso, a análise do desempenho dos atores também foi elogiada, pois a sintaxe de César segue a mesma estrutura da linguagem de sinais ensinada aos chimpanzés em cativeiro, portanto, os sons reproduzidos pelo personagem do filme são teoricamente plausíveis.
6 – Babá primata
Em determinado momento de “Planeta dos Macacos: O Confronto”, César aparece cuidando de alguns filhotes. Segundo os especialistas, esse comportamento seria bem pouco provável de ser observado na natureza. Isso porque o cuidado dos pequenos fica completamente sob a responsabilidade das fêmeas e, como muito, os machos oferecem alguma proteção em determinadas situações. Aliás, não é nada raro que eles cometam infanticídio.
Contudo, nem todos os machos são completamente indiferentes aos filhotes, pois existem registros de primatas excepcionais que adotaram órfãos, e até de alguns que cuidaram dos pequenos durante vários anos na falta das mães.
7 – Chimpanzé com coração
No filme, César é retratado como um símio com “coração mole” e, apesar de esse aspecto parecer um pouco fora de lugar na vida real, a verdade é que primatas e humanos têm vários aspectos relacionados com suas personalidades em comum. Os especialistas especulam que os mesmos genes podem estar envolvidos nessas “coincidências” comportamentais.
Os chimpanzés machos, assim como os homens, apresentam habilidades sociais distintas, e os indivíduos que expressam um gene específico — o RS3 que, por sinal, é essencial para a linguagem em humanos — parecem ser mais aptos socialmente e ter status mais elevado no grupo. Esse alelo aparece em cerca de um terço dos chimpanzés, e está relacionado com a variabilidade no comportamento social de humanos.
Além disso, no longa César briga para manter sua comunidade de símios, e esse comportamento também é plausível, posto que pesquisas relacionadas com o cromossomo Y em chimpanzés revelou que esses primatas desenvolvem comunidades estáveis, e algumas delas existem há milhares de anos.
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