segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Osamu Tezuka: o homem que se tornou um deus da animação

Osamu Tezuka - ObrasJá se passaram 25 anos desde que Osamu Tezuka, o criador do mangá atual, nos deixou. O ANMTV decidiu fazer uma pequena homenagem ao homem que é chamado por muitos de “Manga no Kamisama”, que no bom e velho português simboliza “Deus do mangá”. E não é exagero. Sua obra foi e é inspiração para todos os mangakás de hoje.
É uma missão um tanto complicada falar de alguém tão importante como ele, mas é algo que não deve deixar de ser feito, já que tudo que conhecemos hoje no mundo japonês de animações é graças as suas obras que permanecem vivas e muito bem elogiadas. Portanto, isso não será uma biografia ou análise, mas sim um memorial de seu trabalho como revolucionário.

Pequeno e estranho

Tezuka nasceu Toyonaka, uma cidade na província de Osaka no Japão, no dia 3 de novembro de 1928, mas ficou apenas o suficiente para o nascimento dos primeiros dentes, pois em 1933 ele, seus irmãos e pais mudaram-se para Takarazuka. Nessa época, já era influenciado por outro grande nome do cartoon mundial, Walt Disney, por isso arriscava seus primeiros rascunhos baseados em amigos e parentes. Porém, a situação de influência pode ter se invertido mais tarde. Veremos a respeito adiante.
Na escola, Osamu Tezuka era frequentemente atacado por seu jeito estranho de desenhar e aparência diferente da maioria dos estudantes. Lá, ganhou diversos apelidos como “Gashagasga-atama” (Cabelo enroladinho, em tradução livre). A pequena criança era muito mais apegada a sua mãe do que ao pai, coisa que também acontecia com os outros dois irmãos. Ela os levava para teatros e concertos musicais. Em casa, costumava ver vários filmes no projetor do pai. As exibições foram moldando sua personalidade e lhe inspirando. Costumava ver filmes como Mickey Mouse e Popeye. Uma curiosidade dessa época de sua vida, é que, assim como Satoshi Tajiri, criador de Pokémon, ele tinha queda por insetos, fundando até um grupo sobre o assunto. Inclusive costumava dar nomes de insetos a si mesmo, como pseudônimos, sempre excêntrico. Sua paixão por animais era imensa, por isso muito de suas obras alertam a respeito da preservação de espécies.

Conflitos e evolução pessoal

Em 1939, o mundo entrou em guerra, Tezuka tinha apenas 11 anos e como sempre observava com olhos atentos os acontecimentos ao redor de si, foi bravamente marcado pelo terror dessa época, ainda mais no fim dela com a derrota dos aliados da Alemanha, sendo um deles o Japão. Fato esse que se refletiu em várias de suas obras como a última de 1983 Os Três Adolfs.
osamu 3Foi aos 17 anos que sua carreira começou a se desenrolar de fato, desenhando coisas parecidas ao formato norte-americano de quadrinhos da época. Seu traço ia se modificando e tornando-se original aos poucos. Logo, deu início a sua universidade de medicina, onde se formou. Dizem que o que o motivou a cursar esta área foi a dor de perder amigos durante a segunda guerra; entretanto, oficialmente, o que lhe impulsionou a isso foram as palavras de um médico que cuidou dele na adolescência quando foi abatido por uma doença nos braços. Mesmo com o diploma como médico, ele nunca exerceu a profissão, dedicando-se assim apenas a sua paixão: os mangás. E foi graças a isso que o formato se popularizou de fato entre os nipônicos.
Desenvolveu seu próprio estilo: personagens com olhos grandes (diferenciado da fisionomia básica do povo oriental), traço leve, membros grandes e unhas pequenas. As mulheres eram mais delicadas, olhos mais detalhados e cabelos armados. Esse estilo manteve-se por muitos e muitos anos, sendo que ainda hoje está vivo. É disseminado que a evolução do traço de Mikey Mouse, e o personagem Bambi, ambos da Disney, são baseados no traço criador por Tezuka. Além disso, muito se fala que O Rei Leão de 1994 é, também, inspirado em Kimba, o Leão Branco, um dos títulos mais famosos de Osamu Tezuka que foi produzido em 1954. Outra obra não japonesa que sofreu influência ao longo do tempo foi Betty Boop (Tezuka também assistia os episódios dessa série antes de popularizar).

Início da carreira e consagração instantânea

osamu 4Seu primeiro trabalho profissional deu-se em 1946, um quadrinho chamado Ma-chan no Nikkichou (O Diário de Ma-chan) de apenas três páginas em um jornal de Osaka. Mas, sua primeira obra de grande sucesso chegaria no ano seguinte. Shin Takarajima (Nova Ilha do Tesouro) foi um imenso sucesso tendo cerca 400 mil exemplares publicados e o lançou como um promissor autor com narrativa inovadora e estilo nunca antes visto. Entretanto, sua consagração viria em 1950 do icônico leão Leo. Kimba, o Leão Branco tornava o nome de Osamu Tezuka um dos mais aclamados de todos os tempos. O mangá ganhou anime pela produtora do próprio, a Mushi em 1965 e tornou-se a primeira animação colorida da TV japonesa. Essa obra também foi responsável pela investida pioneira no mercado internacional sendo exibida inicialmente nos Estados Unidos.
E quando parecia que ele não poderia ir mais longe, nasce Tetsuwan Atom. Sim, falo dele, do primeiro anime a ganhar de fato o planeta, ter vários formatos, inúmeros remakes; primeira febre animada no Japão, primeiro anime comercial: a emocionante história do garoto robô,Astro Boy. O sucesso dessa obra foi tão intenso que vários outros artistas sentiram-se inspirados e começaram a produzir séries no estilo robótico o que gerou a primeira grande explosão de animes mundo à fora. O primeiro anime de Astro Boy alcançava números incríveis de audiência, chegando a casa dos 35%, números tão expressivos que poucas atrações na TV japonesa marcam nos dias atuais. Tezuka já era chamado de maior artista da história do Japão e títulos como “pai do mangá” nasceram. Vale lembrar que Tezuka não foi o criador do mangá em si, mas sim marcou o uso do estilo atual, com: leitura da direita pra esquerda, páginas completas com desenhos, a linguagem usada e diagramação por quadros.
E não parou. A Princesa e o Cavaleiro (Ribbon no Kishi) veio em 1953 para se tornar um marco na história do shoujo. Foi a partir dele que títulos no estilo começaram a ser produzidos. Sim, Tezuka é o expoente do shoujo moderno. A Princesa e o Cavaleiro ganhou série animada em 1967, sendo exibido no Brasil em 1973. E sua vida como deus do mangá foi baseada nisso. A cada novo projeto, nascia um conceito inédito e causava sempre grande alvoroço em seu país de origem e mundo a fora. Hi no Tori (Pássaro de fogo, Phoenix) veio para se tornar a mais profunda obra do autor, onde ele insere conceitos que ainda hoje são um tabu para boa parte do planeta. Black Jack, o trabalho de maior duração de Tezuka (17 volumes), é também contado como um dos mais vendidos da história. Nesse título, o já consagrado mangaká aplicou vários de seus conhecimentos na área médica e inseriu alguns dos personagens de outras obras de sua autoria. Outros frutos de seu trabalho ainda se popularizariam no Japão antes de sua partida.
osamu 1Por diversas vezes foi convidado para participar de trabalhos ao redor do mundo, como em janeiro de 1965 quando foi convidado por Stanley Kubrick para dirigir o filme “2001 Uma Odisséia no Espaço”. Kubrick tinha visto Astro Boy e fez uma carta para Tezuka, que acabou rejeitando a proposta por ter muitos compromissos no Japão com seu estúdio. Osamu Tezuka por pouco não trabalhou ao lado do nosso Maurício de Sousa. Eles eram amigos há muito tempo e chegaram a fazer um projeto de parceria, entretanto, Tezuka estava muito debilitado devido a uma grave doença no estômago e logo não estaria mais entre nós.
Osamu Tezuka era casado, tinha três filhos e apenas 60 anos quando nos deixou em Tóquio, no dia 9 de fevereiro de 1989. Milhões de pessoas se comoveram no Japão, afinal, o país perdia seu maior ícone. Foi aí que o humano passou a ser chamado de deus dos mangás. Os japoneses não o idolatram, o título, na verdade, é pelo respeito imenso que têm por alguém que foi cabeça da evolução de sua cultura. Em Takarazuka existe um museu pessoal do autor onde se encontram todas as suas obras, desde mangás à animações. O prédio tem 3 andares repletos de relíquias do mestre. No Brasil, além das várias exibições na televisão que seus trabalhos tiveram, as editoras já publicaram muitos de seus mangás, sendo a New Pop a que mais o faz.
Osamu Tezuka merece toda a admiração que tem. Sua história pouco é disseminada por aqui, ficando assim escondido o nome do responsável pela maioria do entretenimento mundial.  Entretanto, independente de alguém lembrar ou não, ele está em todos os lugares onde há um título japonês ou desenho americano. E é por essa onipresença que é respeitosamente intitulado de deus dos mangás.
Fonte:ANMTV

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