Nem só de garras se faz um herói.
É fato: os filmes de super-heróis já conquistaram seu espaço no cinema, quase como um gênero próprio. E Hollywood, claro, aproveita todas as frentes que pode para levar heróis para as telonas.
Do mundo da Marvel, franquias como “Homem-Aranha” e “Vingadores” chamam a atenção em notícias, cheias de promessa, mas antes de tudo é a vez dos X-Men voltarem a mostrar as caras. Com o lançamento de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” previsto para 2014, já trataram de colocar o favorito das multidões de volta ao centro das atenções.
Com “Wolverine: Imortal” (“The Wolverine”), Logan dá vida novamente ao universo dos X-Men e volta à pancadaria questionando: afinal, há valor em uma vida como imortal?
Uma coisa é fato – o herói não precisou muito para superar seu filme solo anterior (“X-Men Origens: Wolverine”, 2009).
AVISO: O texto abaixo contém spoilers sobre a série de filmes “X-Men”. Então se você não assistiu algum deles, continue lendo por sua conta e risco!
Antes que levantem as bandeiras e gritem para quem (não) quiser ouvir: “Wolverine: Imortal” não é fiel ao quadrinho original. O filme é INSPIRADO em uma famosa saga dos quadrinhos (feita por Chris Claremont e Frank Miller) em que Logan realmente vai ao Japão, compartilhando alguns eventos, temas e personagens, mas não é e não pretende ser igual aos quadrinhos. Por prosseguir o universo dos filmes, não havia como esperar fidelidade total, então tendo isso em mente, podemos ter bem menos reclamações, certo?
Depois dos eventos de “X-Men 3: O Confronto Final” (2006), Logan (Hugh Jackman) abandonou a vida como “Wolverine”, vivendo como um eremita, ainda sofrendo pela morte de Jean Grey (Famke Janssen). Certo dia, surge Yukio (Rila Fukushima), uma lutadora enviada por Yashida (Ken Yamamura / Hal Yamanouchi), um empresário poderoso que teve a vida salva por Logan na Segunda Guerra. Ele lhe oferece a chance de perder a imortalidade que tanto lhe traz sofrimento, mas o plano acaba colocando Logan no centro de uma imensa guerra pelo poder da corporação Yashida, protegendo a herdeira Mariko (Tao Okamoto) da máfia, de sua própria família e da vilã Viper (Svetlana Khodchenkova).
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“Wolverine: Imortal” com certeza não é o filme definitivo do herói briguento, mas é de longe uma de suas melhores encarnações. Aqui temos um enredo mais focado, com diversos elementos de história interessantes, sem distrações excessivas e caminhos estranhos de roteiro como em “X-Men Origens”. Para começar, um número reduzido de mutantes em tela dá muito mais espaço para o herói.
Acontece que aqui conseguimos ver Wolverine em um de seus momentos mais frágeis: por boa parte do longa, o herói está sem seus poderes de regeneração. Ainda que sua força, habilidade e garras continuem, Logan não é nem de longe o mesmo, e essa fraqueza permite que a história explore vários elementos de sua personalidade e história.
Logan também está cercado de personagens interessantes que ajudam muito nessa dinâmica. Yukio e Mariko são quem ganham mais tempo de tela, uma como parceira de lutas e outra como parceira romântica, mas ambas garantindo ótimos momentos, com ou sem o herói.
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A história da família Yashida é um dos pontos principais da trama, altamente influenciada pela cultura japonesa, explorando visões orientais para idéias de honra e família. Boa parte disso não é nenhuma novidade para quem conhece a cultura do Japão, e alguns elementos da história colecionam clichês do país, mas a mistura não deixa de ter seu valor. Ver Logan como um estranho no ninho, em um país que pouco se sabe da cultura e da língua tem bons momentos e alguns poucos que beiram o educativo gratuito, mas que se salvam com boas montagens de diálogo.
O que chega a incomodar, porém, é a simplicidade do enredo em várias partes: claro, estamos falando de um filme feito para ser um sucesso de bilheterias, então é de se esperar certa simplicidade, mas às vezes falta originalidade para algumas motivações simplórias. Logan e Mariko tem um caso amoroso que fica óbvio que irá acontecer desde o primeiro momento que os vemos, e conforme o filme se aproxima do clímax, não faltam clichês um atrás do outro.
Mas não podemos dizer que a história seja ruim. A dinâmica de sobrevivência, lutas e salvamentos cria ótimas cenas e vemos alguns dos momentos mais “casca-grossa” que Logan já teve nas telas, que impressionam e, em alguns casos, até tiram risos da platéia pelas reações inesperadas do herói. As batalhas são intensas e ainda que não tenhamos tantos inimigos super-poderosos quanto em outras versões, Logan ainda tem bastante trabalho.
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O filme tem dois vilões, a mutante cientista Viper (“Víbora”), uma femme fatale literalmente venenosa com ótima presença de cena, e o guerreiro conhecido como “Samurai de Prata”, que, de longe, é um dos que mais sofreu mudanças a partir dos quadrinhos, mas que também garante algumas das melhores cenas de luta com o herói.
Talvez como uma tentativa de fugir de uma censura mais alta, aqui há pouco sangue. Como nas outras produções, não espere ver pedaços, tripas e sangue espirrando mesmo quando Logan retalha seus adversários. Mesmo em cenas mais violentas, o foco fica em outro ponto para evitar mostrar ferimentos mais sérios.
Ótima opção para os fãs da série e de filmes de ação e heróis em geral. Ainda que não um dos melhores filmes dessa categoria, com certeza foge de várias armadilhas e erros de predecessores. O 3D não inova em nada, então se quiser economizar no ingresso, pode dispensar o efeito.
E claro, não se esqueçam que este é um filme da Marvel, então é obrigatório ficar na sala durante os créditos. Acredite, não irão se arrepender.
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