Crepúsculo, só que não exatamente
Vampiros, lobisomens, zumbis e agora bruxas e magos – o mundo do sobrenatural tem se misturado cada vez mais frequentemente com o mundo dos romances. “Dezesseis Luas” (“Beautiful Creatures”) é o mais novo membro dessa família, já começando a ser chamado de “o novo Crepúsculo”.
Baseado na obra de mesmo nome de Margaret Stohl e Kami Garcia (edição nacional pela Editora Galera Record), o filme conta a história do colegial Ethan (Alden Ehrenreich), que mora na tediosa cidade de Gatlin. Aqui não há nada para fazer para um garoto como Ethan, então entre aulas e esportes, ele gasta seu tempo lendo livros proibidos por um comitê ultra-religioso da cidade, enquanto sonha em sair para estudar em alguma faculdade bem longe dali.
Sua rotina muda quando Lena Duchannes (Alice Englert), sobrinha do recluso e misterioso Macon Ravenwood (Jeremy Irons) passa a estudar em sua escola. Excluída pelos outros alunos e taxada de satanista, a menina chama a atenção de Ethan, mas conforme os dois se envolvem, o garoto descobre vários segredos que colocam o amor do casal à prova: Lena é uma bruxa (“conjuradora”), cuja família carrega uma terrível maldição que pode transformá-la em um poderoso ser das trevas em seu aniversário de dezesseis anos. Como se não bastassem as dificuldades da diferença dos dois mundos, a conjuradora das trevas Sarafine (Emma Thompson) vem a Gatlin para garantir que a menina se renda ao mal.

A semelhança não é exagero: é bem difícil deixar de ver “Dezesseis Luas” como um “Crepúsculo” às avessas. Temos um garoto comum em uma cidade pequena e chata, que encontra uma garota que não é um ser humano comum, com uma família estranha e se envolve em uma série de perigos relativos ao amor proibido dos dois.
Seguindo o estilo, mesmo com o protagonista masculino, o filme apela mais para um público feminino, se focando no dilema romântico. O amor de Lena e Ethan não é nem de longe tão água-com-açucar quanto o de Bella e Edward, especialmente porque nenhum dos dois é exatamente frágil, além de serem consideravelmente mais sarcásticos e bem-humorados. Os desafios para o amor dos dois também são muito mais práticos do que emotivos, sendo que o drama que há não é algo que afete muito a platéia. Exatamente por esses motivos, é mais difícil que o público do gênero se envolva tanto quanto com os romances vampirescos.
O roteiro é óbvio e bem simples – mesmo quando surgem dilemas e obstáculos, sabemos que tudo se resolverá. A história diverte, em especial com as muitas possibilidades que o universo das Conjuradoras abre, mas não é nada muito marcante. O andamento também tem certos problemas, com segmentos acelerados e variações inconstantes de ritmo.

Em efeitos visuais o filme tem outro ponto fraco, com alguns efeitos simplórios se alternando a outros inteligentemente executados. Por sorte, a produção não se apoia tanto neles, preferindo impressionar com cenários, caracterização de personagens e com uma boa edição de vídeo.
Nas opções de elenco, não há o que reclamar: o par principal é carismático e divertido, e ganham pontos por veracidade – ninguém é excessivamente belo(a), todos parecem pessoas “de verdade”. Jeremy Irons, Emma Thompson e Viola Davis, como a vidente Amma, também se destacam pelos anos de experiência em atuação, levando também alguns dos melhores diálogos da produção.

É interessante observar que “Dezesseis Luas” também esconde algumas críticas religiosas que podem incomodar os mais devotos. A população da cidade é mostrada como preconceituosa, obsessiva e fanática, proibindo livros e tentando ao máximo expulsar Lena e seus familiares com o pretexto de serem “satanistas” ou “hereges”.
Os Conjuradores passam longe de qualquer ligação com o coisa-ruim, mas isso não impede que façam mil e uma suposições sobre eles. O comportamento garante entrelinhas interessantes sobre preconceitos gerados por religião, especialmente quando os protagonistas parecem cercados de idiotas, e deixa certas conclusões que trazem sorrisos ao rosto dos que se incomodam com extremistas.
A promessa de um novo “Crepúsculo” ficou mesmo na promessa, mas de todo modo a aventura é interessante para fãs do gênero. E mesmo para quem não gosta dos vampiros e lobisomens, “Dezesseis Luas” vale como um romance-ação teen divertido, para assistir sem compromisso.

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