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Como eu estou sempre lendo notícias de cinema, volta e meia, me deparo com algum filme em produção, no meio do mar de continuações e histórias de heróis da Marvel, que traz alguma ideia nova que parece super interessante.
Aí eu fico super animada para ver o filme, mas logo em seguida esqueço do assunto, porque eu tenho a capacidade de concentração e a memória de um peixe dourado.
Um ano depois, fico sabendo que o filme que eu achava que seria super inovador, inteligente ou profundo, foi lançado, mas tão sem alarde que ele entrou e saiu dos cinemas, sem quase ninguém perceber. De alguma forma, durante o processo de produção, a ideia se perdeu.
Ou foi tão repensada e retrabalhada por todos os envolvidos na produção do filme, que ficou irreconhecível.
Ou às vezes, nem era tão boa assim, para começo de conversa.
Aqui vão quatro filmes que, na minha humilde opinião, tinham premissas que teriam dado pano para manga para histórias criativas, inteligentes e memoráveis. O resultado final, no entanto, acabou variando entre ruim e genérico.
“Uma Noite de Crime”
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Esse aqui, eu preciso admitir: a ideia inicial é idiota. Mas, pelo menos, é criativa.
“Uma Noite de Crime” trata exatamente do que fala o título: para melhorar a economia e a insatisfação geral da população, o governo decide criar um evento anual em que, durante doze horas, qualquer tipo de crime é liberado e não existem consequências.
Sim, dá pra questionar inúmeras coisas a respeito disso. A primeira dela sendo: “Hã, quê? Por que no mundo o um governo simplesmente falaria ‘f**a-se, pratica o crime aí e tá tudo certo’? E como isso melhoria a economia? Ou reduziria o desemprego a 1% (dado dito no próprio filme)?”
No entanto, se você esquecer que uma coisa como o raciocínio lógico existe, não dá para negar que existe um filme de terror interessante, partindo do princípio de que seria possível uma sociedade se tornar mais funcional porque liberou crime e violência uma vez por ano.
O ponto de vista, por exemplo, de pessoas perfeitamente normais que saem matando todo mundo só porque elas têm a oportunidade. O quão assustador seria ver um filme que mostra que existem pessoas absolutamente comuns, que matam só porque podem? E se tudo que impede o caos é a existência de punição?
Ou imaginem se o filme acompanhasse o estado de horror e guerrilha em que ficaria a cidade, em um dia de criminalização liberada? Imaginem uma população inteira de assassinos potenciais, com pessoas desconfiando o tempo todo umas das outras, com medo até de ser notadas por mais gente? Já poderia render um filme de terror caótico e paranoico.
E essas são só ideias que eu, como pessoa que nunca na vida recebeu um real para escrever um roteiro, tive em menos de um minuto. Daria, portanto, para fazer muita coisa com a premissa de “Uma Noite de Crime”. Mas, ao invés disso, o que os roteiristas profissionais do filme fazem?
Focam a história em uma família de gente rica tentando sobreviver à noite, sendo que a maioria dos problemas são eles mesmos que criam, a partir de uma incapacidade de tomar decisões que não sejam estúpidas.
E, ainda por cima, os roteiristas fazem um filme enlatado, sem muito suspense.
Em dado momento, o longa até tenta ensaiar uma crítica social, falando sobre como essa lei que permite o crime, faz com que a parte mais pobre da população entre praticamente em guerra, enquanto as pessoas ricas ficam confortavelmente escondidas, em suas casas, guardadas por sistemas de segurança.
No entanto, isso é só uma fala solta no começo do filme, que acaba não levando a nada. O foco mesmo é a sobrevivência dos coxinhas.
Não é à toa que os críticos americanos odiaram o filme. Com força.
“Sem Limites”
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Quando eu vi a ideia deste filme, achei que tinha potencial para ser uma ficção científica com muito a dizer, sobre um tema extremamente atual: a tecnologia cada vez mais ajuda a expandir as capacidades humanas. Se tivermos pessoas com uma capacidade ilimitada, como a sociedade lidaria com isso?
Agora, eu dou um real se alguém me disser que lembra desse filme. Dica: ele é estrelado porBradley Cooper e Robert De Niro, foi lançado em 2010 e acompanha um escritor que descobre uma droga não-lançada, que permite que seu cérebro opere com 100% da capacidade.
No fim, as resenhas foram mornas, e o filme preferiu ter um escopo mais específico: foca mais no vício do protagonista com a droga e em como o personagem usa as novas habilidades a seu favor, se tornando mais um thriller sobre o sucesso ou não de uma única pessoa.
“O Preço do Amanhã”
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O diretor de “O Preço do Amanhã” é o mesmo de “GATTACA“, que mostrou perfeitamente o quanto por um lado, o aprimoramento das capacidades humanas via tecnologia pode parecer maravilhoso, mas a maneira como a sociedade lida com isso e a maneira como isso é absorvido pelo nosso sistema é complexa, com consequências socio-econômicas quase impossível de prever e,  muitas vezes, negativas.
Parece o cara ideal para extrair um filme  incisivo a partir da história de uma sociedade em que as pessoas param de envelhecer aos 25 anos e a partir daí têm apenas mais um ano de vida – a não ser que elas consigam obter mais tempo.
Nesse mundo, tempo é literalmente dinheiro e  trocas econômicas são feitas tendo horas, minutos e dias como moeda. Pode parecer bobo falando assim, mas eu ainda acho que poderia ter sido mais interessante do que acabou sendo.
O filme até estabelece paralelos entre a desigualdade econômica institucionalizada pela sociedade futurística do filme e problemas de distribuição de renda no mundo real, mas a comparação acaba sendo meio simplista e não particularmente bem feita.
Fora isso, o foco maior ainda recai no romance sem química entre Justin Timberlake e Amanda Seyfried e em cenas em que eles ficam fugindo dos vilões e correndo de um lado pro outro, o tempo inteiro.
“Círculo de Fogo” (“Pacific Rim”)
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“Círculo de Fogo“, o novo filme de Guillermo del Toro, sobre a humanidade usando robôs gigantes para combater uma invasão de mostros, ainda não foi lançado por aqui. Ele está sendo incluído nesta lista, com base nas expectativas altíssimas que os críticos americanos tinham do filme e no quanto eles se dizem decepcionados agora.
Eu realmente espero que todos eles estejam errados, no entanto.
Porque, sério, um filme cuja premissa é “Pilotos humanos controlam robôs gigantes para matar monstros do tamanho de prédios” tem tudo para se construir uma hora e meia de diversão ininterrupta.
Fora isso, “Círculo de Fogo” tinha a seu favor um diretor criativo, que sabe contar histórias humanas influenciadas por criaturas monstruosas, e um elenco diverso e composto de caras relativamente novas em blockbusters, com atores como Charlie Day, Idris Elba e Rinko Kikuchi.
No entanto, o que se tem dito do filme é que as cenas de ação podem até ser grandiosas, mas os efeitos especiais não são particularmente bons e os personagens são clichês tão vazios e pouco envolventes, que fica difícil se importar com qualquer coisa acontecendo.
Continuo esperando que todo mundo que diz isso esteja enganado.